A gente foi embora no dia seguinte, e voltou uma semana após. Você tava um pouco mal, nem levantou pra falar com a gente, só ficou na sala, deitado, olhando quem ia e vinha. Antes de eu ir dormir eu passei perto de você e você me fitou com aqueles olhos silenciosos.
Eu perguntei: "Tá tudo bem, Zé?" e você segurou minha mão. Segurou e continuou me olhando. Você não dizia nada, só me olhava com desespero. E ficou assim por um tempo.
E não houve um dia nesse um ano e meio que se passou em que eu não me lembrei daquele olhar.
Você tava pedindo ajuda, e eu não entendi. Você já não conseguia mais falar e eu não percebi. Você tava tendo um AVC na minha frente, e eu não soube distinguir.
Eu nunca me perdoei por isso, Zé. Eu tava no segundo ano de faculdade, tinha acabado de ter um semestre inteiro sobre neurologia, e você tava tendo um AVC na minha frente e eu não percebi!!
E no dia seguinte eu acordei e fui te ver. Você só olhava pra gente, não sentava mais, só olhava. Começou a tremer, mas continuava a olhar. E eu não conseguia fazer nada, Zé. Eu não fiz nada. Já era mais de 9h da manhã quando eu fui chamar alguém dizendo que era melhor procurar ajuda pra você.
E em todo esse tempo eu me questionei sobre o que teria acontecido se eu tivesse entendido o seu pedido de ajuda na noite anterior.
Agora você se foi, Zé, e eu choro por todos nós. A Terra perdeu um anjo.
Eu te amava, e você se foi.